segunda-feira, 21 de abril de 2008

Depois de ato simbólico, sobreviventes de Eldorado dos Carajás começam a ser indenizados

Até o final da próxima semana os sobreviventes do massacre de Eldorados dos Carajás, ocorrido há 12 anos no estado do Pará, devem começar a ser indenizados pelo Estado. Na último dia 17 a governadora do estado do Pará, Ana Júlia Carepa, realizou um ato simbólico no Palácio dos Despachos, sede do Governo, para pagar a 20 sobreviventes do massacre as indenizações pela violência sofrida.
O ato no Palácio dos Despachos foi simbólico porque, mesmo com o recurso já disponível na conta da Justiça, ainda são necessários alguns trâmites para que ele chegue até os trabalhadores. O valor total a ser liberado é de R$1,2 milhão. Cada sobrevivente deve receber uma quantia entre R$ 30 mil e R$ 90 mil, de acordo com a gravidade dos ferimentos.
O massacre de Eldorado dos Carajás ficou conhecido no Brasil e internacionalmente pela brutalidade do enfrentamento entre trabalhadores e a Polícia Militar, sob ordens do então governador do estado, Almir Gabriel. Mais de 70 trabalhadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ficaram feridos e 19 deles foram assassinados. Os responsáveis foram condenados a mais de 100 anos de prisão, mas até hoje estão em liberdade.
“A indenização não apagará a violência”Para Josimar Pereira de Oliveira, um dos sobreviventes do massacre, a falta de amparo às vítimas, por todos esses anos, fez com que o massacre continuasse. O pagamento das indenizações e a assistência médica, segundo ele, “podem fazer com que eles voltem a ter uma vida normal”.
Na última semana, em um seminário na Câmara dos Deputados, em Brasília, sobre a violência em conflitos por terra no Brasil, o presidente da Casa, Arlindo Chinaglia, considerou o massacre como o mais violento na história da luta pela terra no país.
“Lembrando datas como o 1° de maio e o próprio Dia Internacional da Mulher, instituídos por lutas que deixaram vítimas. Essa, com certeza, pode ser uma data nacional em homenagem à luta dos trabalhadores. Em determinadas situações como essa, o próprio cumprimento da lei não é capaz de garantir justiça”, declarou Chinaglia.
Walmir Brelaz, advogado dos sobreviventes, aponta que conseguir o pagamento das indenizações, é fruto da luta incessante dos trabalhadores. “Quantas vezes eles se mobilizaram por justiça nesse caso, com protestos, acampamentos e reuniões. Agora eles conseguirão receber esse benefício”.
Mas ele é firme ao dizer que a indenização não apagará a violência. “O valor econômico nunca vai suprir a dor que eles sentiram e ainda sentem, mas é um valor importante para eles, principalmente para melhores condições de saúde”. Muitos dos sobreviventes ainda têm projéteis de balas alojados pelo corpo, o que causa diversos problemas de saúde como dores no corpo e na cabeça, além de problemas de visão.
Escola e acordo
O advogado destaca que, embora a governadora Ana Júlia tenha cumprido uma decisão judicial, o empenho e a vontade dela em ressarcir às vítimas desse massacre sempre foram grandes, inclusive recebendo os trabalhadores para negociar.
Walmir aproveita para lembrar a promessa feita pela governadora, de construir uma escola no Assentamento 17 de abril, onde vivem os sobreviventes, viúvas e as famílias dos trabalhadores assassinados. Segundo o Governo do Estado, cerca de R$ 500 mil já estão disponíveis no Orçamento 2008 para essa obra.
Outra vitória dos trabalhadores é a assistência médica integral que será oferecida a eles e o recebimento de uma pensão no valor de até um salário mínimo e meio, o equivalente a R$ 622 reais. Walmir Brelaz aponta que um grupo de mais 30 sobreviventes, com casos menos graves, começarão a ser indenizados a partir do próximo ano. Um acordo feito entre governo e esse grupo vai garantir a liberação de R$ 600 mil em 2009 para essa segunda etapa de pagamentos.
Fonte: Notícias da Amazônia (por Gisele Barbieri), 21.04.08

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