terça-feira, 8 de abril de 2008

Sem-terra receberão 1,2 mi

Após reunião ontem, o governo prometeu pagar precatórios a sobreviventes do massacre de Eldorado
O Estado do Pará vai pagar nas próximas semanas R$ 1,2 milhão a 20 trabalhadores rurais sobreviventes do Massacre de Eldorado dos Carajás. O dinheiro será pago a título de indenização por danos morais e materiais, benefício concedido pela Justiça desde 2005, em ação judicial de 1999. No total, os agricultores vão receber indenizações individuais que variam entre R$ 30 mil e R$ 90 mil.
A liberação dos precatórios foi acertada em reunião ontem à noite entre uma comissão de sobreviventes, o advogado deles, Walmir Brelaz, o procurador do Estado, Graco Ivo Coelho e chefe da Casa Civil do Governo, Charles Alcântara. Durante a reunião, um outro grupo de trabalhadores ficou acampado na entrada do Palácio dos Despachos, sede do Governo do Estado do Pará, com uma bandeira do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Além dos 20 trabalhadores indenizados agora, mais 30 sobreviventes e familiares de sobreviventes terão direito a indenizações no valor total de R$ 600, estas pagas com precatórios em 2009. Durante a reunião, Alcântara se comprometeu a agilizar o pagamento dos precatórios a este segundo grupo, que não foi incluído na primeira ação porque muitos deles não tinham sequer documento de identificação à época do conflito.
Apesar de satisfeitos com as indenizações, os agricultores mantêm expectativa sobre o tratamento médico, outra reivindicação, segundo eles nunca atendida plenamente. Segundo o advogado, desde 1999, o Estado foi condenado a oferecer atendimento aos 50 trabalhadores, mas até hoje, isso nunca aconteceu plenamente'.
O massacre de Eldorado do Carajás foi um dos mais graves conflitos pela posse de terras no Brasil. O combate entre trabalhadores rurais e Policiais Militares resultou na morte de 19 trabalhadores rurais que estavam acampados às margens da PA 150.
Reivindicações
Remédios gratuitos, atendimento médico de qualidade, com direito a exames de diagnóstico e reajuste de pensões estão entre as reivindicações dos sobreviventes e parentes de vítimas do massacre de Eldorado de Carajás que acamparam ontem em frente ao Palácio dos Despachos, na expectativa de uma reunião com a governadora Ana Júlia Carepa, que estava fora, em reunião com os secretários de Estado. O grupo foi atendido por assessores da Casa Civil, que anunciaram a visita de uma comissão técnica do governo até o município de Eldorado dos Carajás na sexta-feira, dia 11, para apurar a situação.
Grupo foi ao Palácio dos despachos cobrar indenizações
Um dos sobreviventes, Josimar Pereira, disse que a intenção do grupo era cobrar diretamente da governadora o auxílio às vítimas e a familiares de pessoas assassinadas durante o massacre, assim como melhorias para o assentamento 17 de Abril. 'Ela fez uma porção de promessa em palanque e ainda não cumpriu. Disse que ia construir uma escola e ainda não entrou um tijolo no assentamento. Que ia desapropriar a curva do S e fazer o Bosque da Solidariedade e até agora nada. A assistência médica é precária e tem viúva que ainda não recebe pensão. As que recebem, o valor nunca foi reajustado nesses anos todos. Queremos falar com a governadora, nem que a gente demore cinco dias pra isso', declara.
Entre os que reclamam melhor atendimento, está João Rodrigues Teixeira Filho, 33, que tem uma bala alojada no tórax como resultado do confronto. Ele diz que só conseguiu fazer um raio-x porque uma irmã pagou pelo exame particular, que sofre com dores no peito e no pulmão e que o atendimento médico é precário. A última consulta foi feita com uma médica ginecologista e obstetra, que atende na falta de outro especialista. 'Eu pedi pra ela passar um raio-x, porque tava com dor no peito e ela me respondeu que a médica era ela e eu não sabia de nada, era um mendigo.' O grupo foi recebido pelos assessores Gisele Mendes, Carlos Marques e Antônio Franco, que informaram sobre a visita agendada para a sexta.
Fonte: Jornal AMAZÔNIA, 08.04.2008

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