segunda-feira, 7 de abril de 2008

Vítimas de Eldorado exigem audiência

Pressão
Sobreviventes do massacre acampam na sede do governo e cobram promessas

Um grupo de sobreviventes do massacre de Eldorado dos Carajás vai acampar hoje pela manhã na entrada do Palácio dos Despachos. Eles vêm cobrar atendimento da administração estadual a suas reivindicações históricas. Além de tratamento de saúde, os sobreviventes vão pressionar a governadora Ana Júlia a cumprir as promessas feitas em abril de 2007, em seu primeiro ano de governo, quando visitou a Curva do S, local onde os 19 trabalhadores sem-terra foram executados pela Polícia Militar em abril de 1996. Além de prometer construir uma escola no acampamento, a governadora prometeu cumprir a determinação judicial, proferida em 2002, onde a justiça mandou o governo prestar atendimento médico multidisciplinar aos sobreviventes. Mas, segundo os sem-terra, até agora tudo que o governo fez foi enviar uma equipe de peritos para examinar o grupo, logo após a manifestação realizada por Ana Júlia Carepa em abril de 2007. De lá pra cá, nada mais foi realizado.
Às vésperas de completar doze anos do massacre, o grupo de 30 sobreviventes retorna ao Palácio dos Despachos para cobrar as mesmas reivindicações feitas aos governos anteriores. Desta vez, eles garantem que vão ficar no local até conseguirem ser recebidos pela governadora.
Um dos sobreviventes, Josimar Pereira de Oliveira, informa que além da falta de escola para as crianças do acampamento, as viúvas dos sem-terra que foram assassinados estão abandonadas, sem qualquer cuidado. 'Algumas pessoas vêm aqui, mas não resolvem nada. Nem o nosso livro que ela disse que ia comprar, ela cumpriu. Estamos cansados, ninguém mais agüenta, já fomos várias vezes em Belém, e nada. Eles até que atendem bem a gente, mas nada fazem. Agora nós queremos ser recebidos pela própria governadora, pra ver se ela resolve isso de uma vez por todas', avisa Josimar Pereira.
O grupo alerta que não quer mais ser usados apenas no dia 17 de abril e que os sobreviventes vão fazer muito barulho até conseguir atendimento às reivindicações. O ônibus trazendo os sobreviventes saiu ontem, às 6 horas de Eldorado dos Carajás.
Em fevereiro deste ano, um grupo de sobreviventes foi recebido pelo chefe de gabinete da governadora, Cláudio Arroyo.
Eles entregaram um ofício ao governo, solicitando que os sobreviventes que residem na Região Metropolitana de Belém recebam atendimento médico na capital, mas nem isso foi cumprido, de acordo com a sobrevivente Rubenita Silva.
Além de problemas psicológicos, a maioria dos sobreviventes do massacre de Eldorado do Carajás convive com seqüelas da violência policial. A própria Rubenita é obrigada a viver com uma bala no lado esquerdo do rosto, que a deixa com vários problemas, inclusive, dores de cabeças muito fortes e constantes. Outros têm problemas físicos na perna, braço, cabeça e outros membros, que os impedem de ter uma vida normal.
Jornal O LIBERAL, 07.04.2008

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