domingo, 10 de abril de 2011

Sobreviventes do massacre ainda lutam por direitos

Os sobreviventes do massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido há 15 anos, ainda lutam por tratamento de saúde continuado, atendimento psicossocial, e melhoria da infraestrutura no assentamento 17 de Abril, em Eldorado dos Carajás. E a lista de demandas não para de aumentar. Agora, eles também lutam para reajustar o valor de suas pensões e das viúvas dos 19 trabalhadores sem-terra assassinados pela Polícia Militar em 1996. Ontem, um grupo de cinco sobreviventes esteve em Belém para se reunir com o chefe da Casa Civil, Zenaldo Coutinho, mas a audiência foi desmarcada. No final da tarde, o chefe da Casa Civil entrou em contato com o grupo e remarcou a audiência para hoje às 15 horas. Os trabalhadores afirmam que as determinações da Justiça só têm sido cumpridas em parte e sem continuidade. De acordo com Antônio Alves de Oliveira, o “Índio”, a luta maior dos sobreviventes é por tratamento de saúde continuado. “Na verdade os tratamentos que tivemos até agora são só paliativos. Não temos atendimento de verdade, sério, que a gente possa recorrer”, explica Índio. VALORES DEFASADOS O sobrevivente assegura que nem no governo do PT obtiveram o atendimento necessário pelo governo estadual. “Eles passavam a mão na nossa cabeça, nos abraçavam, mas pouca coisa foi resolvida”, acentua Índio, se referindo à administração da ex-governadora Ana Júlia Carepa. A grande preocupação que os sobreviventes querem resolver com o governo Simão Jatene agora é o reajuste dos valores das pensões concedidas pelo Estado aos sobreviventes e às viúvas das 19 vítimas do massacre. Em 1997, quando as pensões foram aprovadas na Assembleia Legislativa, o valor ultrapassava dois salários mínimos, mas ficou sem os reajustes anuais seguidos e foi ficando defasado, atualmente o valor é de apenas R$ 415 para a maioria, mas alguns estão recebendo até menos, R$ 402 e R$ 401. PROTESTO Os sobreviventes retornarão a Belém dia 15 para participar do tradicional protesto que o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) realiza na semana em que o massacre completa mais um ano. Eles pretendem agora se organizar em associação para lutar pelos direitos já assegurados judicialmente, como pensões e tratamento médico e psicológico. “Vamos nos organizar, porque associados o movimento ficará mais unido, mais forte pra reivindicar nossos direitos”, ressalta o sobrevivente de Eldorado dos Carajás. Eles também asseguram que se não conseguirem negociar com o governo estadual reajuste das pensões até o dia 15, ingressarão com ação judicial para assegurar esse direito. PERÍCIA MÉDICA Os sobreviventes aguardam para segunda-feira uma nova perícia médica prometida pela direção regional da Secretaria de Saúde Estadual em Marabá. Eles se queixam que esta será a décima perícia que serão submetidos, mas o tratamento de saúde nunca é assegurado por completo. Eles contam que têm muitos sobreviventes com problemas físicos, consequência do massacre. Grande parte deles continua com balas alojadas pelo corpo, como o próprio Índio, que sofre com uma bala no joelho. Através da assessoria de imprensa, Zenaldo Coutinho avisou que já recebeu determinação do governador Simão Jatene para assegurar todo o tratamento de saúde aos sobreviventes e que só não pôde recebê-los ontem porque teve que se reunir com urgência com o governador para resolver problemas do Estado. Mas que o governo estadual vai agilizar o atendimento das reivindicações.


Diário do Pará, 09.04.2011

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