quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Sobrevivendo com arranhões

Vítimas de Eldorado sofrem abandono
Sobreviventes
Sem atendimento médico, mais de 60 pessoas cobram atenção do governo
Os sobreviventes do massacre de Eldorado de Carajás reclamam do abandono por parte do Estado com relação ao tratamento das vítimas, garantido por decisão judicial em agosto de 1999. A decisão determinou que o Estado assumisse o atendimento médico das vítimas, arcando com os tratamentos e ainda com as despesas associadas, como deslocamento, alimentação e medicamentos, entre outras. Na época, o Estado interpôs vários recursos até começar a cumprir a ordem, em maio de 2000.
A situação de abandono já dura sete meses, segundo as vítimas do massacre que estiveram ontem no Palácio dos Despachos, em audiência com representantes do governo. Na reunião, o governo prometeu criar uma equipe multidisciplinar para o atendimento às vítimas com seqüelas de baleamentos sofridos durante o confronto.
Segundo Antônio Alves, um dos representantes das vítimas, a promessa do governo, repassada pelo procurador Graco Ivo Alves Rocha Coelho, não é satisfatória, porque os pacientes estão sem atendimento há sete meses. 'Nos sentimos extremamente prejudicados, porque não estamos aqui pedindo nada, mas sim cobrando aquilo que já é obrigação do Estado, determinada pela Justiça'.
Alves informou que há quatro pacientes em estado crítico, precisando de atendimento com urgência, além do 57 sobreviventes contemplados pela decisão judicial. Ele reclamou do atendimento prestado a ele e a Josimar Pereira, que vieram para Belém na segunda-feira, 21, representar as vítimas e solicitar audiência com o Estado.
'Além de não sermos recebidos naquele dia, fomos colocados em um albergue sem a estrutura necessária para uma boa acomodação. Este governo está nos tratando muito pior do que o próprio governo que promoveu o massacre, porque antes éramos hospedados em hotéis simples, mas com condições dignas. Hoje não temos sequer o tratamento médico e nem uma data precisa de quando vamos voltar a tê-lo', desabafou.
Na reunião, o procurador ressaltou que será criada uma nova comissão para atendimento das vítimas, mas não informou a data. Dos 70 feridos que sobreviveram ao massacre, apenas 20 conseguiram reunir na época todos os documentos e laudos exigidos para processar judicialmente o Estado. Em 1988, o grupo ingressou na Justiça com uma ação ordinária de indenização por danos materiais e morais, além da garantia ao tratamento. A indenização no valor de R$ 2,9 milhões foi reduzida para R$ 1,2 milhões, após o Estado ter recorrido quatro vezes.
Jornal O LIBERAL, 24.01.2008

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