sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

BREVE HISTÓRICO DO MST NO PARÁ

A fundação oficial do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ocorreu em janeiro de 1984, por deliberação do Primeiro Encontro Nacional do MST, realizado no Município de Cascavel, Estado do Paraná. No ano seguinte, aconteceu o seu Primeiro Congresso, no município de Curitiba, no mesmo Estado. Nesses eventos, já participaram vários trabalhadores rurais do Estado do Pará, também com a intenção de instituir o MST neste Estado.[1]
A reconhecida importância histórica, social e política que possui esse Movimento deixa evidente que sua criação não foi resultado de uma simples decisão setorizada de trabalhadores reunidos, mas, como afirma Bernardo Fernandes “o MST é fruto do processo histórico de resistência do campesinato brasileiro”,[2] constituindo-se em parte e continuação da história da luta pela terra.
No Pará a criação do MST contou com a importante influência de alguns sindicatos dos trabalhadores rurais vinculados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Porém, é a partir de 1989, que vários trabalhadores sem-terra do Pará, e de outros Estados, como de Goiás, Maranhão, Ceará e Pernambuco, passaram a intensificar o processo de organização estrutural do Movimento. Em 10 de janeiro de 1990, o MST realizou sua primeira ocupação no Estado do Pará, ocorrida no município de Conceição do Araguaia, ocasião em que, aproximadamente, cem famílias ocuparam uma fazenda denominada “Ingá”. Em julho desse ano, no mesmo município, cento e cinqüenta famílias ocuparam a fazenda Canarana.[3]
Em julho de 1992, no município de Parauapebas, 548 famílias de sem-terra ocuparam uma fazenda denominada Rio Branco. Após serem imediatamente despejadas, acamparam em frente à prefeitura por um período de cinco meses, momento em que realizaram várias manifestações e negociações. Com a reocupação dessa fazenda, o INCRA resolveu comprar 12.000 ha., da área, transformando-a no assentamento Rio Branco, composto de 250 famílias.[4]
O Primeiro Encontro Estadual do MST foi realizado em 1994. No ano seguinte, os sem-terra ocuparam outra parte da fazenda Rio Branco, forçando o INCRA a adquirir mais 3.383 ha., dessa fazenda, que passou a ser denominada de assentamento Palmares, em homenagem a Zumbi. A concessão de seus títulos foi realizada oficialmente pelo presidente nacional do INCRA, Francisco Graziano, em 5 de novembro de 1995.[5]
Nesse dia, além dos assentados de Palmares, estavam cerca de 1500 famílias reivindicando a desapropriação da fazenda Macaxeira, que, em reunião com Francisco Graziano, receberam deste o comprometimento de fazer vistoria na terra reivindicada. Assim, para aguardar o seu resultado resolveram acampar imediatamente no Centro de Orientação e Formação Agropastoril de Curionópolis, onde permaneceram até 8 de março de 1996, data em que foi divulgado o resultado do laudo de avaliação técnica, que classificou o latifúndio como produtivo, levando os sem-terra a ocuparem a fazenda Macaxeira. E para conquistá-la definitivamente, iniciaram uma caminhada com destino a Marabá, partindo do município de Curionópolis no dia 10 de abril de 1996. No dia 17 de abril, aconteceu o massacre.[6]
Atualmente o MST mantém assentamentos e acampamentos em praticamente todas as regiões do Pará, que de forma organizada se divide em quatro grandes regionais: Cabano, Eldorado, Carajás e Araguaia.[7]
Texto extraído do livro "Os sobreviventes do massacre de Eldorado do Carajás", de Walmir Brelaz. Belém, 2006.

[1] MORISSAWA, Mitsue. 2001. p. 138-139. O evento ocorreu nos dias 21, 22 e 23 de janeiro/1984, nas dependências do Seminário Diocesiano, contando com representantes de 12 estados.
[2] FERNANDES, 2000, p. 49.
[3] Ibid, p. 201.
[4] FERNANDES, 2000, p. 203.
[5]Ibid, p. 205.
[6] Ibid, p. 209.
[7] Informações fornecidas pela coordenação estadual do MST.

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